Breu
O breu-branco é uma resina de odor natural agradável e fresco, que nasce do cerne do tronco de uma árvore da Floresta Amazônica. Seu tronco é fino, em comparação ao das grandes árvores da floresta; porém, pode crescer tanto quanto elas.
A árvore expele esta resina naturalmente pelo tronco, como forma de autoproteção, quando é danificada ou picada por um inseto da mata. No princípio o breu tem cor branca e brilhante, lembrando um mineral.
Com o tempo, solidifica-se, formando uma massa dura, esbranquiçada e cinzenta, ou cinza-esverdeada, bastante quebradiça e facilmente inflamável.
O breu-branco tem vários usos, o principal uso é como ingrediente para a calafetação de canoas. Também é usado como defumador e incenso em rituais religiosos e para acender fogueiras.
A origem da utilização dos produtos resinosos é anterior à história escrita. Na bíblia, quando Deus diz para Noé construir o barco ele diz para ele calafetar o braço com betume que é uma resina de pinheiros.
Registros dos séculos IV e II a.C. mostram que o breu era um produto importante nos antigos centros de poder da Grécia, Macedônia, Ásia Menor e Egito. Nesse tempo, o poder de um país em comércio e armamento era diretamente influenciado pelos seus recursos florestais. O alcatrão e o breu eram produtos necessários para a calafetagem dos barcos construídos de madeira, impermeabilização de cordas e lonas, proporcionando também combustível para as tochas de iluminação e numerosas outras aplicações, especialmente as ligadas à indústria naval.
Os romanos apreciavam muito o vinho aromatizado com breu e utilizavam esta substância para selar as ânforas de terracota utilizadas na exportação e armazenagem de vinhos.
Os gauleses, a que os romanos chamavam piccos (isto é, “produtores de resina”), produziram e comercializaram produtos resinosos no sul da França, até que os Vândalos destruíram a sua indústria em 407 da nossa era. Mas já antes, Teofrasto, cerca de 300 a.C, na sua obra “Inquérito sobre as Plantas”, descrevia em pormenor a técnica para obter oleorresina a partir do pinheiro.
Teofrasto descreveu igualmente o método utilizado na Macedônia para produzir o breu; o mesmo processo que foi usado, com pequenas modificações, nos 2.000 anos seguintes.
“Alcatrão” era o nome dado ao produto resinoso líquido que pingava da madeira do pinheiro durante a combustão lenta, ou por aquecimento, em recipiente aberto, da seiva expelida pelas feridas abertas nos troncos dos pinheiros. O breu é o produto parcialmente carbonizado que resulta de um aquecimento mais prolongado do alcatrão.
A porção volátil da resina era a chamada “essência de terebintina” (a aguarrás), e era recolhida cobrindo o recipiente com uma pele de ovelha para reter os vapores; torcendo a pele impregnada, recolhia-se a aguarrás. O termo terebintina provém possivelmente de terebinto, uma conífera utilizada como fonte de oleorresina na Ásia Menor. O resíduo que ficava no pote era o breu.
Por seu turno, o nome de “colofônia”, dado à parte não volátil da oleorresina, derivará de colophon, o antigo nome grego da região costeira da Ásia Menor ocidental onde prosperava a produção de resinosos. A colofônia é vulgarmente conhecida por “pez” ou “pez louro”.
A importância do breu para a indústria naval, fez com que as nações de navegadores necessitassem de uma fonte desta matéria prima, e assim, o desejo da Inglaterra de não ter de depender das fontes escandinavas contribuiu para a colonização da América do Norte, dado o potencial das florestas do Novo Mundo para a produção de resinosos.
Em Portugal, no início do século XV, encontram-se reunidas uma série de condições que explicam a posição portuguesa nos descobrimentos marítimos. Entre essas condições destacam-se a abundância de árvores próprias para a construção naval e o seu fácil transporte até aos respectivos estaleiros. Para além do sobreiro, usado principalmente na construção dos cascos, abundavam ainda o pinheiro manso, para o tabuado de costados e fundos, e o pinheiro bravo e o carvalho para a construção de peças mais compridas e de pouco contacto com a água, como os mastros e vergas. Essa abundância de madeira de pinho muito se devia à ação particularmente clarividente do nosso rei D. Dinis que, no século XIV, determinara o plantio massivo do pinheiro em extensas áreas do território nacional.
No Extremo Oriente, o pinheiro é quase sempre um símbolo de imortalidade, o que se explica, a um tempo, pela persistência da sua folha e incorruptibilidade da sua resina; resina, também ela, considerada símbolo de pureza e imortalidade, em muitas civilizações.
Na mitologia grega, o pinheiro assume a forma transfigurada da ninfa Pitys, que assim se disfarça para se proteger dos avanços amorosos de Pan. Um jogo de sedução e magia; atributos de pureza e imortalidade, de que não é difícil extrair relações salvadoras.
De fato, as aplicações farmacológicas dos produtos resinosos remontam a tempos imemoriais. Os médicos da antiguidade descreveram a utilização de vinho com resina para o tratamento de diversas doenças. Em épocas mais recentes, o alcatrão de pinheiro foi utilizado no tratamento de dermatites crônicas e como um expectorante contra afecções dos brônquios.
Já no século IV da nossa era, a resina de pinheiro era utilizada na decoração de edifícios, funcionando como adesivo na fixação de mármores e outras pedras ornamentais.
Também o alcatrão de pinheiro misturado com sebo tem uma longa história de aplicação como lubrificante para olear eixos de rodados.
Os antigos gregos usavam alcatrão e resinas de pinheiro para iluminação e em cerimônias religiosas. E no século VII, as resinas eram usadas na guerra como “fogo líquido”, uma primeira forma de napalm.
Muitas aplicações foram, desde então, desenvolvidas para o pez, ou colofônia.
Registros do século XVIII mostram que era utilizado na produção de sabões, em plásticos e cabedal, como conservante e para impermeabilizar cordas e lonas.
Um dos mais antigos derivados da colofônia com interesse comercial é o âmbar, uma resina fossilizada muito procurada pelos antigos adoradores do Sol. Não só o âmbar era tão prezado como o ouro em joalharia, como se admitia ter poderes para afastar os maus espíritos e proteger de doenças.
Em 1850, desenvolveram-se novas aplicações para a colofônia e para a aguarrás. Os químicos aperceberam-se de que a colofônia era (e ainda é) o ácido orgânico mais barato em todo o mundo, e a sua utilização aumentou como uma bola de neve. É difícil imaginar um produto com tantas aplicações em tantas indústrias sem qualquer relação umas com as outras para uma tão grande variedade de usos.
Na Europa, a indústria de produtos resinosos existe há séculos na Finlândia, Suécia, Noruega e em França; enquanto que em Espanha e Portugal, esta indústria só se desenvolveu a partir de meados do século XIX, sendo atualmente Portugal o principal produtor de produtos resinosos na Europa e o segundo o nível mundial, logo a seguir à China.